quinta-feira, 2 de junho de 2016

Hoje não ★Urara Yumeno #166★

Hoje faz 8 anos que vim para Portugal, recebi um teste com nota de 9,8 e terminou o percurso de cerca de 8 meses com o treinador de vólei. O número 8, de longe, será o meu número da sorte.

Como passaram rápido estes 8 anos… E muitas coisas aconteceram. Coisas boas e coisas más, mas tudo serviu para aprender alguma coisa.

Um teste que me tinha corrido otimamente. Uma nota que dececionou-me. Todos dizem “Para a próxima corre melhor”, “É apenas um teste”,… Mas quando for o exame, não haverá próxima vez (o teste foi de Física e Química ). Que seja um teste, um trabalho ou uma mera ficha, nós estudámos, nós esforçamo-nos, é normal que fiquemos desapontados. As palavras do professor foram que a média deste ultimo teste (que foi um exame mesmo, ou seja, um teste global dos 2 anos) comparada com o primeiro do 1º período (que tinha sido um teste de uma matéria especifica) foi melhor, tendo em conta o grau de dificuldade. Sim, isso é verdade, mas o que adianta termos evoluído desde o 1º Período, se isso ainda não é suficiente? Fiquei mesmo decepcionada quando recebi a nota. É o que dá criar expectativa e estar confiante de nós próprios.
“Levei o ano a repreender-vos, mas agora estamos na altura do ano que eu tenho que incentivar-vos e não deixar que desistam” Ao ouvir essas palavras do professor, vieram lágrimas aos meus olhos. Sinto-me uma inútil, por não obter resultados, pelo professor esforçar-se e acreditar em nós mais do que nós próprios… Mas eu suportei as lágrimas.


Sempre quis ter uma atividade em que eu pudesse esforçar, divertir e gostar dela. No final de Setembro / inicio de Outubro do ano passado, eu encontrei-a: Vólei. Queria muito mesmo entrar no Desporto Escolar e, infelizmente, isso seria quase impossível. A equipa já era formada há não sei quantos anos, eu era um zero no vólei e iria para lá só incomodar. Mas, como por milagre, alguém apercebeu-se deste meu desejo. E na última Terça -feira de Outubro, vieram-me perguntar “Não queres entrar para o vólei?”. Durante esse dia ouvi essa pergunta 3 vezes. A primeira, pensei que tinha sido impressão minha. A segunda, pensei que ela estava a brincar e ri-me. Na terceira, eu repeti-lhe a pergunta, só mesmo para ter a certeza que tinha sido isso mesmo o que ela tinha dito. E FOI!!! No próximo dia, fui ao treino com a intenção de assistir apenas. Eu não sabia como os treinos funcionavam, não sabia se seria aceite na equipa, eu não sabia nada. E quando entreguei o papel de inscrição pensei “É só isto? Já entrei? É assim tão simples?”. Foi tanta novidade para mim que eu quase não aguentei!
Acho que, no inicio, não aceitaram bem eu ter, agora, mais uma atividade, pois assim estaria mais ocupada e vinha mais cansada. Não poderia ajudar a minha mãe tanto como ajudava antes, não conseguia ficar acordada até mais tarde a estudar porque estava super cansada e cheia de sono e isso trouxe-me algumas consequências. Mas temos de fazer sacrifícios, não é?
Tivemos jogos. Dos oficiais, não ganhamos nenhum, mas foi possível ter experiencias inesquecíveis, sentimentos e momentos que se eu nunca tivesse entrado no vólei, não poderia viver.
De todos os treinos, só faltei em dois: um com o treinador e outro sem (que foi durante as férias de Carnaval, se não me engano)
Ontem, tivemos o último treino, que foi sem o treinador. Convenci duas raparigas a virem por ser o último treino. Quando chegamos, o pavilhão tinha sido limpo e o funcionário disse que não poderíamos treinar. Mas como queríamos muito, ficamos a espera e o chão não demorou a secar. No final, eramos no total 5 pessoas. No entanto, nem montamos a rede nem nada, porque o tal funcionário teve que sair cedo e, consequentemente, nós também. Ficamos só a fazer passe em roda. 
Hoje, tivemos uma última conversa com o treinador, já que o ano letivo está a terminar. Primeiro, pediu para que cada um falasse do que achou do ano. Eu, sinceramente, acho que não disse muita coisa. Tinha muito mais o que dizer, mas como as lágrimas vieram aos meus olhos outra vez e eu não queria chorar, disse que não tinha mais o que falar. Depois, o treinador falou-nos da equipa, do ano que tivemos, do nosso esforço e empenho, resumindo, um balanço do nosso percurso. Acho que não foi nada do que estivéssemos a espera. Eu já tinha ouvido a opinião de várias raparigas da equipa: “Com a antiga treinadora, ganhávamos os jogos todos, enquanto que com este treinador, não ganhamos nada”, “Não que ele peça para darmos a opinião sobre como foi o jogo”, etc. Achei e continuo a achar um pouco que não tenho “voto na matéria”, porque eu só entrei no vólei este ano! Não sei como funcionavam com a antiga treinadora. Sobre a opinião dos jogos: ao inicio pensei também que era uma “seca”, é verdade, mas se pensarmos bem, é uma coisa muito importante, porque, ouvindo a opinião das outras raparigas, podemos perceber erros que fazemos e não reparamos, mas que uma que estiver a jogar connosco ou outra que estiver de fora, consegue perceber e é dando a nossa opinião sincera que nos unimos mais. Digo já que eu sou um desastre a fazer discurso oral!
 Ele também contou-nos outras coisas, inclusive que vai deixar de ser o nosso treinador. Eu acabei por chorar (como era de esperar). Tentei conter, mas não deu. Já em outras conversas que o treinador teve connosco, eu estive prestes a chorar (eu sou muito chorona, acreditem), mas eu tentava sempre conter. Mesmo agora que estou aqui a escrever, caem lágrimas (tenho os olhos a arder). Na verdade, não sei bem o que ele disse para me fazer chorar. Talvez foi tudo. Eu realmente adorei ter entrado no volei, adorei mesmo! Mas sei que o percurso deste ano não chega nem aos pés do que poderia ter sido. Eu sei. Se pudesse voltaria atrás e gostaria de fazer tudo melhor. Mas é por isso que temos de dar o nosso melhor no presente para que no futuro não termos o desejo de voltar ao passado para fazer as coisas melhor. E talvez, não foi isso que aconteceu. Não culpo ninguém, a não ser eu própria (é o máximo que cada um podemos fazer). 
Todos nos esforçamos, mas… não foi o suficiente. Tenho pena, muita pena mesmo, de talvez sermos a ultima equipa do nosso treinador e de não termos tido a força suficiente para puxar a corda que nos unia a ele e deixamo-lo afogar-se. Eu sinto-me muito, mas muito mal quando desaponto as pessoas. Elas esperam tanto de mim, fazem tanto por mim… Eu também tenho que retribuir!! Aconteceu isso quando foi aquele caso de passadora. Fiquei muito triste comigo própria. Chorei no caminho para casa e no banho. E agora… penso que poderíamos ter dado mais. (Sempre podemos dar mais) Eramos a ultima esperança e deixamo-la escapar. Nem sei, nem preciso saber, o que aconteceu com o treinador, mas deve ser muito revoltante (não sei se é bem a palavra) e triste perdeu-nos aquele gosto incontrolável por uma coisa… mas é claro, que a vida é muito curta, para focar-nos numa coisa só. Apenas gostaria de ter deixado uma última boa lembrança para uma pessoa que ama o vólei há 20 anos. Sinto muito por isso… Sentimos todos. Mas espero mesmo que o treinador encontre ou reencontre a sua felicidade. ~Shiawase ni natte kudasai~

Ao longo destes quase 8 meses, eu aprendi muitas coisas. Muitas mesmo. Foi tudo como eu imaginava ou sonhava? Não. Não, porque o que imaginamos ou sonhamos, foge, por muito que não queiramos, da realidade, mas foram 8 meses que ficaram marcados e que serão momentos inesquecíveis. Foi no vólei que encontrei o meu refugio, foi nele que busquei novos objetivos, senti-me como um bebé a aprender a andar, em que cada dia, era um passo para um novo descobrimento.


Eu nem sei se o treinador vai ler, mas resta-me apenas agradecer por estes 8 meses: Muito obrigada por tudo e desejo-lhe boa sorte para o seu novo percurso.